Manuel Domingos Neto
Manuel Domingos Neto nasceu em Fortaleza em 1949. Graduou-se em História pela Universidade de Paris VI, mestre pela Universidade de Paris III e Doutor em História pela mesma universidade, em 1979. Professor da Universidade Federal do Ceará e professor associado da Universidade Federal Fluminense

Obrigado, Fortaleza!, por Manuel Domingos Neto

Obrigado, aos que, mesmo sem gostar de Lula e do PT, repeliram a aberração da extrema direita. Vocês decidiram essas eleições.

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Obrigado, Fortaleza!, por Manuel Domingos Neto

Fortaleza, nunca fostes bela nem musical quanto um poema, como dizia Lourenço Filho quando em tuas ruas circulavam famintos fugidos do interior. Mas tens mágico diadema e de teu feitiço sou cativo.

Sempre fostes um pequeno amontoado de gente bem de vida cercado de multidão desesperançada. Retratas um país injusto com seus filhos. Demonstras a necessidade de reformas sociais profundas.

Mas me deixastes alegre neste domingo.

Obrigado, aos que, mesmo sem gostar de Lula e do PT, repeliram a aberração da extrema direita. Vocês decidiram essas eleições.

Gratidão aos que, revoltados com Fernando Haddad pelos agrados aos banqueiros, compreenderam a importância de barrar a onda fascista.

Gratíssimo aos colegas e ex-alunos que temeram prestigiar Camilo Santana, mas foram alertados de que não seria razoável votar na extrema direita.

Como lhes prometi, reo o recado: ministro Camilo, não estimule o ensino superior privado em detrimento do ensino público. Educação é direito, não mercadoria. Não pode ser meio de formação de grandes fortunas. O desenvolvimento do Brasil precisa de boas universidades públicas, com professores e funcionários dignamente remunerados.

Meu carinho especial para você, Antônia, que perdeu filho e sobrinho para o tráfico. Foi difícil compreenderes que a segurança de todos não pode vir de quem promete mais violência. Tua ausência das urnas foi importante para derrotar os fascistas. Que o governador Elmano entenda teu recado silencioso e o ree a Lula. Governantes precisam assegurar a vida de tua prole. Beijo, Antônia.

Obrigadíssimo a todas as vítimas do planejamento urbano segregador por compreenderam que, se Evandro Leitão não efetivar melhorias na vida do povo, a outra opção seria mais desastrosa.

A institucionalidade existente não é boa. Não assegura função social ao solo urbano, agride o ambiente e permite especulação imobiliária desenfreada. Mas a ampliação da bagunça na gerência pública tornaria Fortaleza o paraíso da bandidagem engravatada.

Vocês, exaustos que acordam de madrugada para chegar ao trabalho e tresandam em motos nas ruas de Fortaleza, mesmo desesperançados votaram no PT. Dessa forma, livraram Fortaleza do caos e ajudaram o Brasil à resistir ao pandemônio.

Carlinhos, analisamos as inconsistências do programa petista para Fortaleza. Discutimos a postura oligárquica dos políticos cearenses. Vimos a arrogância dos que se apresentam como “esquerda” e desrespeitam as reações populares, tratando os aturdidos como “gado” e arrotando a imbecilidade sociológica do “pobre de direita”. Não obstante, te engajastes na campanha de corpo e alma durante dias a fio. Valeu, continuemos nossa peleja!

Obrigado, Nati querida, por colocares o adesivo do 13 no domingo apesar do descaso dos petistas com os animais de rua. Tens razão, essa gente precisa respeitar os indefesos.

Finalmente, agradeço aos cearenses que, sem chances na terra natal, ligaram de longe pedindo aos familiares que não votassem no deputado abjeto. Vocês, que estão em São Paulo, no Rio, Brasília, Acre, Nova Iorque, Lisboa, Belém, Teresina amargando a saudade de Fortaleza, são continuadores da saga multissecular dos sobreviventes da seca.

Não percamos a esperança. Lutemos! Um dia, nossa terra amada deixará de produzir hostes errantes. Aí, Fortaleza será bela e musical quanto um poema.

Manuel Domingos Neto nasceu em Fortaleza em 1949. Graduou-se em História pela Universidade de Paris VI, em 1976. Obteve o título de Mestre em Sociedade e Economia na América Latina, pela Universidade de Paris III, em 1976, e o título de Doutor em História pela mesma universidade, em 1979. Foi pesquisador da Casa de Rui Barbosa, superintendente da Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí, estado pelo qual também foi deputado federal. Professor da Universidade Federal do Ceará e professor associado da Universidade Federal Fluminense, foi também vice-presidente do CNPq e presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED).

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