Para entender o milagre chinês, por Luís Nassif

O plano central define a estratégia geral do país e os setores estratégicos, buscam uma economia de mercado com “características chinesas”.

Muito se fala e pouco se conhece do modelo econômico chinês. Divulga-se que o país define seus campeões internacionais que são turbinados, sem nenhuma espécie de competição.

Recentemente, o economista Hua Bin escreveu um artigo relevante para descrever o modelo chinês, o “Revisitando o Made in China 2025”.

O MIC25, lançado em 2015, visava à autossuficiência tecnológica da China em 10 setores críticos. Para Bin, o plano se baseava na ideia de que o sucesso ocidental vinha da ciência, tecnologia e manufatura, e não de seus sistemas políticos. A China, segundo ele, adaptou esses fatores-chave às suas realidades.

O MIC25 visava reduzir a dependência da China de tecnologias estrangeiras. O plano identificou 10 setores críticos para priorização e estabeleceu 260 metas quantitativas a serem alcançadas até 2025.

A premissa do MIC25 é que o sucesso ocidental não se deve a sistemas políticos multipartidários ou sufrágio universal, mas sim ao desenvolvimento da ciência e tecnologia, indústria e manufatura. E, também, à competição ordenada de mercado, sem as “falácias” do pensamento econômico e político ocidental.

Discussões amplas definem o chamado modelo chinês de mercado, baseado nos seguintes princípios:

  1. Há um plano central, onde se define a estratégia geral do país e os setores estratégicos, buscando uma economia de mercado com “características chinesas”. Essa abordagem, segundo Bin, é fortemente influenciada pelo pensamento de Wang Huning, o principal geoestrategista da China.

Os 10 setores chave do MIC25 incluem:

  • Tecnologia da informação de próxima geração
  • Máquinas e robótica avançadas
  • Equipamentos aeronáuticos e aeroespaciais
  • Engenharia oceânica e construção naval avançada
  • Equipamentos avançados de transporte ferroviário
  • Veículos de nova energia
  • Sistemas e equipamentos de energia elétrica
  • Novos materiais
  • Equipamentos biofarmacêuticos e médicos avançados
  • Equipamentos para máquinas agrícolas
  1. O o seguinte é convocar as províncias, para cada qual estimular o empreendedorismo em sua região, dentro das prioridades traçadas. Em alguns casos, a própria província pode controlar a empresa.

O Sucesso da China 

Bin detalha os avanços impressionantes da China em diversas áreas:

  • Veículos Elétricos: Liderança global, com 80% dos carros novos vendidos na China sendo de marcas nacionais e o país se tornando o maior exportador de automóveis do mundo.
  • Aviação: Lançamento do jato de ageiros COMAC C-919.
  • Ferrovias: A mais sofisticada tecnologia ferroviária de alta velocidade e a maior rede do mundo (48.000 km).
  • Semicondutores e Software: Chips de fabricação chinesa equipam os celulares mais recentes da Huawei, e o HarmonyOS da Huawei é usado em mais de 1 bilhão de dispositivos.
  • Robótica e Manufatura Inteligente: Liderança em fábricas automatizadas e drones, com mais de 50% dos robôs industriais do mundo em fábricas chinesas.
  • Energia Verde: Liderança global na produção de energia solar, eólica, nuclear e hidrelétrica, com mais de 80% de participação de mercado global em painéis solares e turbinas eólicas.
  • Saúde e Agricultura: Avanços em equipamentos médicos (Ressonância Magnética) e aumento significativo da produção agrícola através de biotecnologia e automação.
  • Telecomunicações: Liderança em tecnologia 5G e sua ampla adoção.
  • Espaço e Defesa: Operação da única estação espacial nacional (Tiangong) e avanços na capacidade de produção de estaleiros, superando os EUA em mais de 200 vezes.

Apesar de alguns atrasos em tecnologia de fotolitografia avançada e redes de internet banda larga via satélite, atribuídos a obstruções externas, a China atingiu 86% das metas do MIC25 e está a caminho de alcançar o restante nos próximos 2-3 anos, segundo análise do CSIS.

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11 Comentários

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  1. E Mais: os chineses nutrem um consenso amplo e geral sobre as metas e projetos de futuro. Não há as terríveis descontinuidades das alternâncias de poder, muitas vezes antagônicas, mas que ascendem ao comando manipulando o eleitorado com questões que não tem nada a ver com um projeto de pais desenvolvido. São as brechas da nossa “democracia”, que permitem que somente os ricos e poderosos se deem bem.

  2. O sucesso ocidental vem da ciência, da tecnologia e da manufatura, e não de seus sistemas políticos, pois é a economia que, em última análise, determina a política. Mas onde as forças produtivas avançam, certamente também avançarão as relações políticas.

    1. O senhor talvez esteja se referindo aos “Estados Unidos do Brasil”, antigo nome oficial de nosso país? A confusão surge porque há um país alienígena no norte do nosso continente que tmb chama-se EU. Obviamente Brasileiros, enquanto brasileiros, só torcem pelo Brasil.

  3. Pelo que li em uma análise de um indiano no Quora, os chineses criam um ambiente ultracompetitivo de incentivos em áreas estrategicas (por exemplo, células solares). Em vez apenas uma ou outra empresa, eles financiam centenas/milhares de pequenas e médias empresas. Eles sabem que a grande maioria vai falhar, mas a dúzia de sobreviventes vai ter competitividade mundial. Isso cria problemas de comprar e financiar as dívidas das empresas falidas, mas cria infraestrutura e megaempresas que pagam impostos. No geral, da forma como foi organizado na China, é bem positivo.

  4. Bom dia! O mercado é concessão do Partido Comunista….Banco serve pra financiar as atividades industriais e não para se adonar do orçamento e do mercado

  5. A libertação da vida, do sagrado (espiritualidade da dominação) e do profano (materialismo que tira a liberdade), esta muito longe da Faria Lima (economia ocidental) e da China (economia oriental).
    Um pais somente achara o caminho da luta pela liberdade da vida e de sua própria existência, quando buscar a justiça social e humana.
    Social e a liberdade da sociedade.
    Humana e a liberdade individual.
    Social e a distribuição da renda , através do salário justo, educação libertadora, saúde para manter-se vivo, moradia digna e o direito de ir e vir com justiça.
    E a revolução pela dignidade da vida, e feita pelo coletivo e individual, em pleno equilíbrio.

    1. Essa é a vontade da maioria das pessoas realmente de bem e que as pessoas do mal prometem cumprir através de leis, regulamentos e pregações religiosas. Na prática, o que você pleiteia é uma convivência comunista ou no mínimo socialista.
      Ai de nós que ainda nos iludimos com essa esperança de boa e justa convivência. Puxamos a carroça do capitalismo sem olhar para baixo, onde está o abismo para qual caminhamos na tentativa de alcançar a cenoura da justiça social que nos penduram na frente.

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