Maira Vasconcelos
Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).

A morte sombria de Maradona. E quanto de nós mesmos esses falsos herois carregam, por Maíra Vasconcelos

Li esses dias, que foi dado início ao julgamento sobre sua morte. É provável que um grupo de criminosos tenha matado Maradona.

A morte sombria de Maradona. E quanto de nós mesmos esses falsos herois carregam

por Maíra Vasconcelos

Conheci Don Diego Armando Maradona, na década de 90, na sala da casa dos meus avós maternos, em Belo Horizonte. Meus tios foram os responsáveis por me apresentarem o Maradona, durante o Mundial de 1990. Depois, em 1994, lembro-me de ter conhecido Diego ainda mais. Ele alterava o estado de ânimo de meus tios, quando naquela sala reinava o futebol. Os gritos que eu ouvia nessas discussões me fazem lembrar as polêmicas em que Diego esteve metido naquela Copa.


O que mais me lembro é que Maradona tinha o poder de deixar meus tios alterados, gritando mais do que sempre gritam. Também irados e embasbacados. Por isso, queria saber e me aproximar dessa figura que vinha da Argentina. País sobre o qual, nesse momento, sempre escutava falar. Mas jamais imaginaria que, décadas depois, estaria na fila quilométrica do velório de Don Diego, em 2020, na Avenida 9 de Julho. E enquanto caminhávamos em sentido à Casa Rosada, sabia que estava ali por uma questão familiar. Isso que faz do futebol algo mais do que um esporte.

Li esses dias, que foi dado início ao julgamento sobre sua morte. É provável que um grupo de criminosos tenha matado Maradona. Uma série de “displicências médicas” rondam sua morte, que aconteceu naquele dia 25 de novembro. Em uma casa, em Tigre, na província de Buenos Aires. O cirurgião falsificou a de Diego em uma história clínica. Ele insistiu que Maradona deveria prosseguir com a internação domiciliária. A psiquiatra falsificou o certificado médico de uma visita a Diego, que nunca aconteceu. Entre outras atitudes escandalosas de descuido com o paciente. 

Esse é o cenário da morte de Maradona. Justo alguém que entregou tanta vida. Talvez, por isso, resolvi escrever este texto. Mas é sempre muito imprecisa a razão pela qual escrevemos qualquer tipo de texto. Se agora busco a vida que Maradona entrega àqueles que o iramos, por isso, escrevo. Se o que busco são rastros familiares e da infância, que, querendo ou não, lá está a figura de Diego. Pode ser que busque o descontrole louco e apaixonado dos meus tios. Isso que ficava estampado na relação deles com Maradona e que, agora, resta na memória. É muito curioso querer dimensionar e não poder saber quanto de nós mesmos esses falsos herois carregam.

Maíra Vasconcelos é jornalista e escritora, de Belo Horizonte, e mora em Buenos Aires. Escreve sobre política e economia, principalmente sobre a Argentina, no Jornal GGN, desde 2014. Cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina (Paraguai, Chile, Venezuela, Uruguai). Escreve crônicas para o GGN, desde 2014. Tem publicado um livro de poemas, “Um quarto que fala” (Urutau, 2018) e também a plaquete, “O livro dos outros – poemas dedicados à leitura” (Oficios Terrestres, 2021).

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