A defesa de um programa Mais Engenharia no Brasil, por Henrique Luduvice

A defesa da Engenharia Brasileira não pode ser compreendida como a resultante de enfoques meramente nacionalistas

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A defesa de um programa Mais Engenharia no Brasil, por Henrique Luduvice

A defesa da Engenharia não deve ser interpretada como uma manifestação corporativa sem lastros no contexto internacional histórico, no qual se encontra inserido o Brasil. Muito ao contrário. Um observador eficiente, munido de experiência, visualiza que a realidade existente respalda a contundência de tal colocação. Afinal, os Países considerados centrais sempre ostentaram a Engenharia, em períodos e conjunturas distintas, como uma de suas prioridades. Embora, às vezes, com outras nomenclaturas.
Vide os exemplos do Egito, Grécia, Mesopotâmia, Pérsia e Roma, dentre outros, em ado longínquo. No presente, assiste-se ao poderio e influência dos EUA, Europa, Japão, China, Rússia, Índia, Canadá e do próprio Brasil. Dependendo dos temas sobre os quais se promovam avaliações.

Por consequência, a defesa da Engenharia Brasileira não pode ser compreendida como a resultante de enfoques meramente nacionalistas, desprovidos de aspectos consagrados no conhecimento ancestral.

Em verdade, o posicionamento em tela, quando analisado sob a lente adequada, conduz a reflexões que transcendem o trivial. Representa uma resultante proveniente de cenários com sabedorias tradicionais acumuladas. Esta, remete à indispensável concepção de um Projeto de Nação integrado, que contemple o desenvolvimento tecnológico, econômico e social. Com características inclusivas e ênfase na soberania.

No transcurso da História restou demonstrado que as sociedades detentoras das maiores competências em Engenharia alcançaram importantes triunfos e melhores patamares de aclamação. Seus povos ostentaram indicadores de qualidade de vida mais elevados nas escalas das respectivas épocas.

Essas afirmativas escoram-se em inúmeras demonstrações, devidamente registradas no transcorrer dos tempos. A título de ilustração, poder-se-ia ressaltar as capacidades de realização das civilizações que ergueram cidades com múltiplos tipos de bairros, edificações, urbanismos, interligações e centros de convivência, que se mantêm funcionais após centenas de anos. Ou, ainda, a implantação de longevas captações de água, reservatórios e redes hidráulicas de distribuição.

Algumas populações se especializaram na produção de alimentos em larga escala com os correspondentes armazenamentos e transformações. Outros grupos na idealização e implementação de sistemas de deslocamento, expandindo viagens e comércio. Existiram também aqueles que se notabilizaram pelo uso do acervo disponibilizado pela Engenharia em produções industriais diversificadas, fortificações e equipamentos de defesa. Ou, infelizmente, de ataque e dominação.

Em tempos modernos assistimos aos drones, programas espaciais, transposição de rios, inteligência artificial, medicina com máquinas capazes de detectar e proporcionar intervenções impensáveis em prazo recente ou a comunicação por redes.

Acrescente-se, por oportuno, que a Engenharia contribui significativamente na constituição e alavancagem do Produto Interno Bruto do Brasil. Inclusive, para permitir que o País oferte ao seu povo condições dignas de vivência que incorporem os avanços decorrentes dos diversos espectros da Ciência e Tecnologia.

Infinitas referências adicionais poderiam ser elencadas visando estampar os inegáveis impactos provocados na História pelos saberes específicos ou combinados de Engenharia. Necessário se faz realçar que neste Século XXI, um dos indicadores que definem as expectativas em relação ao potencial e competitividade de um País é o número de Engenheiros por Habitantes. Artigos em profusão, de fácil o, encontram-se disponíveis a respeito.

Enquanto o quadro de valorização da Engenharia se consolida em nível planetário, verifica-se no Brasil um desinteresse dos jovens cérebros e talentos do segundo grau em cursar Engenharia. Possivelmente em razão de carreiras com remunerações inadequadas, não atraentes, incompatíveis com a complexidade intrínseca aos estudos, desempenhos e valências desses Profissionais.

Enfatize-se que os Engenheiros atuam como Projetistas, Construtores, Empresários, Responsáveis Técnicos ou efetivando Auditorias e Fiscalizações em áreas estratégicas que viabilizam o Progresso esculpido na bandeira, devidamente instituída a partir da Proclamação da República.

A relevância deste assunto para o País ressoa óbvia. Recorde-se do ocorrido nos anos de 2008, 2009 e 2010, quando taxas percentuais de expansão do PIB da ordem de 5.7, 6.4 e 7.5, impulsionadas por investimentos em Engenharia, levaram ao pleno emprego, à valorização da vida e a um ambiente positivo de negócios no Brasil.

Naquelas ocasiões, a procura pela contratação de tais Profissionais tornou-se manchete dos meios de comunicação. O País correu riscos de ser obrigado a importar Especialistas com o objetivo de atender às necessidades de incontáveis setores organizacionais.

Portanto, o atual distanciamento da juventude brasileira da Engenharia é inaceitável sob todas as óticas. Deve ser interpretado como um grave problema a ser equacionado, pois compromete o futuro da Nação.
O Estado, via seu Governo, que cotidianamente apresenta demonstrações de compromissos com o Brasil, precisa atentar para essas circunstâncias e implementar providências visando reverter tal tendência. Não há como cogitar de uma Nação próspera, com convicções de modernidade e independência, sem Engenharia.

Independentemente do valor que, com certeza, reconhecemos nas demais profissões, defender a Engenharia pressupõe interceder por um País sintonizado com processos produtivos de vanguarda que absorvem parcela considerável da força de trabalho e injetam vitalidade na economia. Na sucessão, geram maiores perspectivas para que a Democracia e a Política, quando exercidas em níveis sublimes, estendam seus resultados à totalidade dos brasileiros.

Urge que o Brasil, detentor de uma população de aproximadamente 212 milhões de habitantes distribuídos em 5570 Municípios, estabeleça um Programa Nacional Mais Engenharia (englobando Agronomia, Arquitetura e Geologia), incentivando carreiras públicas e privadas que fascinem Estudantes, encantem Profissionais e os espraiem no amplo território tropical.

Esta iniciativa ensejará que a Nação produza mais quadros de reconhecida qualificação técnica, compatíveis com sua demanda, que trabalhem nos planos federal, estadual e local. Elaborando projetos e captando recursos com Investidores, Bancos de Fomento ou Ministérios. Visando aprimorar, construir, cultivar, expandir, pesquisar, produzir ou urbanizar. Em síntese, implantando conteúdos e soluções que orgulhem a nacionalidade.

Finalizando, a disseminação da Engenharia, revestida de uma consciência empreendedora e cidadã, estimulará a ascensão dos índices nos Municípios, Estados e Regiões, incrementando os paradigmas de desenvolvimento humano do País. O Planeta Terra compartilha desta percepção e entendimento. A Nação e seus Profissionais, idem. Entendemos que não há mais espaços para dúvidas. Ou justificativas para eventuais postergações. Avante. É imperativo. Esta pauta requer ser assumida pelo Brasil.

Henrique Luduvice – Engenheiro civil; Ex-Presidente do CREA/DF, MÚTUA e CONFEA;Ex-Diretor Geral do DER/DF;Ex-Secretário de Transportes do DF;Ex-Presidente dos Conselhos Rodoviário, do Metrô e de Transportes do Distrito Federal.

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