Concessão de prisão domiciliar a Kirchner depende do quanto o mercado quer humilhá-la

Camila Bezerra
Jornalista

Defesa da ex-presidente argentina defende o direito ao benefício por ter mais de 70 anos e para evitar tragédias; sentença de seis anos de prisão gerou protestos

Luis Robayo – AFP

O correspondente Fabian Restivo analisa que a Justiça argentina deve acatar ao pedido de prisão domiciliar, protocolado pelos advogados de defesa da ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, de acordo com a vontade do mercado financeiro em humilhar a ex-presidente, assim como obrigá-la a receber a sentença presencialmente, a fim de “ter a foto de Cristina Kirchner sendo condenada presencialmente nos tribunais”.

“Aqui o que se joga é um fator político importante e o quanto o poder econômico,  que é quem colocou o martelo na mão dos juízes para esta sentença, pretende humilhar a ex-presidente. Isto é o que temos por agora”, conclui o correspondente.

Na última terça-feira (10), a Suprema Corte da Argentina rejeitou um recurso da ex-presidente contra a sentença de seis anos de prisão por corrupção. Cristina, então, tem cinco dias para se apresentar à Justiça. Ainda assim, o Ministério Público pediu prisão imediata de Kichner, pedido negado pelos juízes.

Os advogados de defesa então pediram prisão domiciliar para a presidente, baseada em dois argumentos. O primeiro deles é a de que a ex-presidente tem direito a cumprir prisão domiciliar e sem tornozeleira eletrônica ter mais de 70 anos. Ela tem 72.

A tornozeleira seria dispensável ainda, de acordo com o Restivo, porque Cristina já tem guarda domiciliar, graças ao seu caráter de ex-presidente. “Então, isso [a tornozeleira] não teria nenhum sentido”, afirmou Restivo. 

Outra demanda é a de que Kirchner não seja transferida aos tribunais de Comodoro Py, para ser sentenciada presencialmente. Para a defesa, o rito poderia ser feito por zoom, uma vez que, se a prisão domiciliar for concedida, ela já estaria presa. 

A notificação deveria ser virtual também para evitar desastres na Argentina. “Eles estão vendo que há muitas pessoas acompanhando a ex-presidente. Do Partido Justicialista até sua casa, são quadras e quadras de gente. E como a ministra Patrícia Bullrich gosta dos cordões policiais e dos golpes, está tentando evitar que haja um desastre lá, que haja luta, que pessoas fiquem feridas”, continua o correspondente.

Perseguição

Após a condenação, Cristina afirmou que é alvo de perseguição política, uma vez que os juízes apenas confirmaram uma sentença que já estava escrita. 

“Esta Argentina em que vivemos hoje nunca deixa de nos surpreender”, afirmou. “Não se confundam. [Os juízes] são três fantoches que respondem a líderes naturais muito acima deles”, disse.

Entenda o caso

Presidente de 2007 a 2015 e vice-presidente de 2019 a 2023, Kirchner foi condenada por duas instâncias da Justiça argentina  por favorecer Lázaro Báez, dono de uma empreiteira e amigo do casal Kirchner em 51 licitações para obras públicas, muitas delas superfaturadas e sequer concluídas, de acordo com a denúncia do Ministério Público.

De acordo com a acusação, Báez reava parte dos recursos públicos das obras para Cristina e seu marido, esquema que teria resultado em US$ 1 bilhão de prejuízo aos cofres públicos. 

Mas a ex-presidente também criticou a gestão de Javier Milei, que estaria promovendo desmontes em diversos setores da economia argentina.

“Podem me prender, mas as pessoas continuam recebendo salários miseráveis ou perdendo o emprego, as aposentadorias vão continuar insuficientes e não vão chegar ao fim do mês, e os remédios estão cada vez mais caros.”

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2 Comentários

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  1. terceirização
    A terceirização é muito mais caro
    A terceirização tornou o Brasil um país muito menos correto
    corrupção
    A terceirização aumenta o desemprego
    É preciso alguma informação sobre algum condomínio
    Uma organização paramilitar “armada” em um condomínio
    indefensável
    É “obrigatório” “proibir” a terceirização
    “matar”
    A vida é humildade
    Casa de acolhimento

  2. A crise mundial das instituições, não consigo ter uma certeza razoável da culpa da senhora presidente.

    Acho que ela é culpada, mas também sem certeza.

    Mas condenado um ex mandatário a prisão deve ter condições especiais, cela de estado maior ou domiciliar.

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