Trump humilha Zelensky e ameaça todo o mundo, por Maria Luiza Falcão Silva

Zelensky saiu da Casa Branca quase que escorraçado, com o rabo entre as pernas, como assistimos pela TV, e o acordo não foi assinado

Reprodução

Trump humilha Zelensky e ameaça todo o mundo

por Maria Luiza Falcão Silva

Os presidentes dos Estados Unidos Donald Trump e o da Ucrânia Volodymyr Zelensky reuniram-se ontem, 28 de fevereiro de 2025, na Casa Branca, em Washington, na presença do vice-presidente americano J.D. Vance e da mídia mundial, para um acordo sobre a exploração de terras raras na Ucrânia.  

O encontro de portas abertas proporcionou um show de horrores, um bate boca vergonhoso, que deixou o mundo civilizado perplexo. Se o big show foi programado como parte de uma estratégia de marketing, não sabemos, mas todos ficaram abalados. Tornou-se manchete nos principais jornais do mundo inteiro. O vice-presidente, com cara de apavorado, chamava a atenção para o fato de que toda a mídia  estava a presenciar o escândalo, mas isso não abalou a fúria do Trump, que respondeu que era bom que os americanos tomassem conhecimento e, em termos desconcertantes, cobrava do presidente Ucraniano: “seja grato; você está desrespeitando este país; se cairmos fora vocês lutarão sozinhos; você não está em boa posição, não tem as cartas; está jogando a favor de uma Guerra Mundial; você já falou muito (quase disse cale a boca); apenas agradeça”.

Trump abandonar Zelensky não é surpresa pois já disse várias vezes ser necessário “fazer a Ucrânia pagar” pelos gastos dos Estados Unidos”, na guerra que na verdade era deles, travada em terras terceirizadas, a Ucrânia. O inimigo era Putin, de quem Trump virou best friend forever  (bff) como dizem gerações de nossos jovens fascinados pela cultura do Império.

Zelensky saiu da Casa Branca quase que escorraçado, com o rabo entre as pernas, como assistimos pela TV, e o acordo não foi assinado, embora o presidente dos Estados Unidos tenha acenado com a possibilidade de novas negociações.

Era difícil acreditar no que se via e ouvia. Mas era tudo verdade, as mídias analógicas e digitais repercutiram o vexame diplomático. Putin certamente se divertiu com o acontecido e comemorou. Sem dúvidas saiu vencedor. O acordo não foi assinado.  Mas as portas não foram fechadas pelos dois presidentes, que trocaram farpas ao vivo e a cores. Adiaram para outra oportunidade de maior “serenidade entre as partes”, que Trump chama de busca pela paz, mas que nada mais é do que a rendição de Zelensky ao Império.

A conta chega. Os mais de 100 bilhões de dólares contabilizados de ajuda americana à guerra entre Rússia e a Ucrânia/Otan/EUA, que Trump clama que são em torno de US$ 500 bilhões, começam a ser cobrados com a exigência de exploração dos minérios das preciosas terras raras da Ucrânia, que detêm algo em torno de 5% das terras que são reservas mundiais de minérios estratégicos. Dentre esses minerais figuram o lítio e o cobre, usados para a produção de baterias necessárias para produzir carros elétricos e para fabricação de chips de Inteligência Artificial (IA). Esses minerais são diversos e servem a múltiplos propósitos. Explorando na Ucrânia, os Estados Unidos diminuiriam sua dependência em relação à China, de onde importam cerca de 80% de suas necessidades de minerais de terras raras, e que permitem a fabricação de inúmeros produtos eletrônicos de consumo das famílias americanas e de produtos bélicos e materiais radioativos para uso em guerras nucleares.

Esse escândalo diplomático que é mais trágico do que cômico, representa uma banalização das vidas que tombaram nos campos de batalha ou nas cidades ucranianas e russas. É um desrespeito às milhares de pessoas que deixaram a Ucrânia em busca de segurança para suas famílias. É um deboche com as Nações Europeias que se viram vitimadas pela crise energética decorrente da proibição de consumo do gás gerador de energia pela Rússia; é um escárnio com todos nós que sofremos com o aumento dos preços dos grãos provenientes da região em guerra que insuflaram a inflação de alimentos em todo o planeta, afetando ainda mais os povos fragilizados pelos efeitos da epidemia da Covid-19.

O enlouquecido Trump, presidente do país mais poderoso do mundo, que ama regimes autoritários como o de Viktor Orbán, o primeiro-ministro de extrema direita da Hungria e de Kim Jong-un e sua família, ditadura totalitária da Coreia do Norte, nega a Democracia, os efeitos das mudanças climáticas, desrespeita as Instituições  criadas no pós II Guerra Mundial  para assegurar a paz e o convívio civilizado entre os povos, nos empurra para um abismo, para um mundo de múltiplas  crises e guerras que podem levar  a situações complexas e desastrosas para  o futuro do  Planeta.

Maria Luiza Falcão Silva é economista (UFBa), MSc pela Universidade de Wisconsin – Madison; PhD pela Universidade de Heriot-Watt, Escócia. É pesquisadora nas áreas de economia internacional, economia monetária e financeira e desenvolvimento. É membro da ABED. Integra o Grupo Brasil-China de Economia das Mudanças do Clima (GBCMC) do Neasia/UnB. É autora de Modern Exchange-Rate Regimes, Stabilisation Programmes and Co-ordination of Macroeconomic Policies: Recent experiences of selected developing Latin American economies, Ashgate, England/USA. 

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn “

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. “Você não tem mais as cartas”

    Tradução: você tinha o governo anterior na mão em razão dos segredos podres de Hunter Biden na Ucrânia. Agora isso acabou, ou dá ou desce.

    Triste fim do Zé Manensky, que aproveitou a eleição do vulnerável Biden para levar adiante seus delírios: retomar a Criméia, descumprir os acordos de Minsk, expandir a limpeza étnica no Donbass, impor uma language law discriminatória contra as minorias.

    Nessa aventura, a Ucrânia vai terminar:
    – Sem 4 províncias e ainda sem a Criméia;
    – Entregando suas terras raras ao Tio Sam a preço de banana, haja vista a fatura apresentada com juros de agiota;
    – Com sua infraestrutura destruída e centenas de milhares de mortos, e outro tanto de refugiados;
    – Fora da OTAN e da UE;
    – E o Zé como forte candidato a ser suicidado, como queima de arquivo. Aqui jaz um palhaço que acreditou na própria piada.

    1. O Zé Lensky é tão tonto que caiu num conto do vigário e nem percebeu. Só na cabeça dele alguém iniciaria uma guerra com a Rússia e sairia vencedor. Sem noção total: sem conhecimento de história, de geografia, de geopolítica e de sua própria estupidez.

      1. Na verdade, ele até que foi mais esperto que se imaginaria, para um cretino como ele.

        Enxergou uma fissura geopolítica, e escolheu um lado, da Europa/EUA.

        Acreditou que o jogo era sério, e foi em frente.

        A Europa/, EUA sabotou o duto de gás vindo de Moscou para Alemanha, e plantou a justificativa para que o “Kaiser” Olaf bancasse a narrativa anti Rússia.

        Os erros:

        Não se trata da Rússia, mas da China.

        E outro, Europa e Ucrânia acreditaram que EUA manteriam a mesma linha, a despeito da troca de governo.

        Toda a história mostra que são pendulares, e hoje alimentam o que combatem amanhã.

        Al Qaeda, ISIS, etc.

        Bem, os EUA hoje, por ironia, são a única chance de manter a Ucrânia soberana quer dizer, desde que entreguem as terras raras.

        Esse assento pretendido pela Ucrânia na decadente Europa custou caro, e não veio, e nem virá, mas se vier, de que adiantará?

        1. “…E outro, Europa e Ucrânia acreditaram que EUA manteriam a mesma linha, a despeito da troca de governo.”
          Como assim, cara pálida? Se o cabra avisou na campanha – e fez disso o seu mote – que ACABARIA COM A GUERRA DA UCRÂNIA, onde que EUA manteria a mesma linha política a despeito da troca de governo?
          Consideremos então que tanto Zé Lensky quanto a Europa quiseram se iludir, nénão?
          Foi esse tipo de raciocínio que motivou a existência do bolsonarismo por aqui, lembremo-nos.

  2. https://www.arktosjournal.com/p/zelensky-is-finished-ukraine-is-finished

    Opinião de A. Dugin sobre vitória russa nesse conflito que quase escalou para uma guerra nuclear.
    Lula parece que não entendeu e ficou na superfície da questão do salão oval e aquele bate boca.
    Talvez a China esteja preocupada com o namoro Trump – Putin, já que é nítido que há uma estratégia em curso para separar Rússia e China.
    A China é uma potência que está em ascensão e os EUA no sentido oposto.
    Muito cuidado pois esse é um ponto de ruptura e Z pode tentar uma operação como Israel executou contra seus inimigos.
    Analistas do site moon of Alabama cogitam uma nova divisão do mundo em áreas de influência tipo uma YALTA 2.0

    1. Esse é um assunto delicadíssimo, mas ingratidão não é uma qualidade do Putin. As pedras se moverão, EUA e Israel poderão tentar o cheque mate contra a relação China/Rússia, mas o cravo EUA sairá ferido e a rosa – ISRAEL despedaçada. Tenho pra mim que Putin vê na terra santa a raiz de todos os males. Sabe, China e Rússia sempre foram as vítimas preferenciais do anglo sionismo e Putin não é bobo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador